Existe um boato de que estão espalhados cartuchos antigos de videogames "amaldiçoados", isto é, cujo conteúdo foi modificado para se tornar algo verdadeiramente assustador. "Creepypasta", como é chamada a cultura de contos de terror na Internet, tem uma relação rica com videogames. O nome vem do bom e velho Ctrl+C, Ctrl+V, mas criatividade é o que não falta para os autores dessas paródias horripiliantes de franquias famosas. A lista abaixo traz alguns exemplos desses mundo particular.
Desde que Pokémon Green incendiou a imaginação dos jogadores com a mal-assombrada música de Lavender, que dizem ter provocado casos de depressão e suicídio no Japão, os gamers sempre estiveram à procura de novos casos paranormais em seus jogos. Versões de Zelda com espíritos aprisionados, entre outras obras cujo personagem principal pode sofrer morte permanente a qualquer instante, traz para o mundo dos games uma parcela de relatos fora do alcance da ciência. Ou é isso que seus autores querem que pensemos.
The Legend of Zelda: Majora's Mask e o fantasma no cartucho
Majora’s Mask é protagonista do talvez mais famoso episódio de demonização já presenciado. Aconteceu em meados de 2010 e abalou muitos fãs da Nintendo com seus episódios diários. O usuário do YouTube Jadusable contou que, em uma tradicional venda de garagem americana, viu um cartucho maltratado com a palavra “Majora” escrita, possivelmente em referência à sequência de The Legend of Zelda: Ocarina of Time.
O vendedor da antiguidade, velho e desconfiável, deu-o de graça, explicando que havia pertencido a um garoto que não vivia mais na vizinhança, e se despediu dizendo: “Goodbye, Ben!”. Apesar do estranhamento (Jadusable diz que seu nome é Matt), ele ignorou a saudação, ansioso para voltar para casa e testar o cartucho em seu velho N64.
O que foi contado pela Internet nas duas semanas seguintes é até hoje fonte de inspiração para muitas investigações coordenadas, mas sem resultados concretos. Matt encontrou alterações bizarras no jogo, que apagavam e escreviam jogos salvos por conta própria, mexiam com a aventura de modos assustadores e acima de tudo pareciam torturar o jogador por pura diversão.
Incontáveis erros gráficos e de código tomavam conta dos cenários, personagens mudavam de lugar e apareciam para atacar Link, e no final, aparecia sempre uma mesma mensagem: “You’ve met with a terrible fate, haven’t you?” (“Você encontrou um destino terrível, não foi?”).
Matt descobriu que um menino chamado Ben, anos antes, havia sofrido um grave acidente e se afogado no mesmo dia de seu aniversário. Convencido de que o tal garoto estava aprisionado dentro do cartucho, Matt continuou explorando as armadilhas do jogo, convencido de que Ben estaria comunicando o que aconteceu com ele por meio daquelas alterações bizarras.
O que se diz é que o cartucho foi queimado. Mais macabro de toda essa história, porém, é que há diversos momentos na aventura grotesca que indicam uma possível participação do pai de Ben na morte do filho, ou que há mais de uma pessoa aprisionada no cartucho.
Jadusable usou um editor de ROMs de Nintendo 64 para transformar Majora’s Mask em um jogo de terror, e não houve nem cartucho nem vendedor misterioso nem menino afogado na vida real. Ainda assim, a lenda continua enganando mesmo hoje. Isso sim é uma história bem contada. Veja a primeira sequência de vídeos:
Pokémon Terror Black Edition e a maldição do fantasma
Também no ano de 2010, os fóruns da 4chan trouxeram à Internet o boato sobre uma versão pirata de Pokémon Red/Blue Edition, apropriadamente nomeada Terror Black pela alteração inesperada que trazia. Segundo o relato que é passado adiante, um dos anônimos usuários daquele site encontrou em uma lojinha de feira o cartucho escuro da imagem ao lado, que imediatamente o prendeu a atenção por não ter a arte oficial de Pokémon. A compra foi imediata.
Ao ligá-lo no Gameboy, o usuário anônimo percebeu que já na equipe inicial de monstrinhos constava o personagem “Ghost”, não-capturável nas versões comuns do jogo. O novo pokémon tinha apenas um ataque, “Curse” (“Amaldiçoar”), mas cada vez que este comando era dado, a vitória na batalha era instantânea. Ele também nunca era atacado, já que o pokémon inimigo sempre estava “muito amedrontado para atacar”, e, pior: além de tirar toda a vida em um golpe, o ataque removia qualquer vestígio do oponente de forma permanente – um indício bastante claro da morte daquela criatura – após um choro alto e agudo. O mesmo podia ser feito com os treinadores alheios após cada batalha, deixando para trás uma tumba no lugar de seu avatar.
A aventura tornava-se facílima, mas após a vitória na Liga Pokémon não era mais possível navegar pelo mapa. Ao invés disso, o jogo cortava automaticamente para algumas décadas depois, quando o treinador protagonista – já velho e sem pokémons – contempla muitas das tumbas de Lavender pensando nas glórias do passado.
Sem mais nada a fazer e sem nenhum NPC no mundo além das lápides de suas vítimas, o único caminho trilhável conduziria o jogador para a cidade inicial de Pallet, onde uma visita à casa do personagem principal daria início a uma alucinação gritante com todas as vítimas da maldição. Em uma batalha final, o agora velho treinador confrontaria seu Ghost sem nenhum pokémon, podendo apenas se debater enquanto o antigo parceiro observava reticente. Finalmente, a maldição racairía sobre quem a invocou tantas vezes, conduzindo à morte.
O mais arrepiante de toda história é que o Gameboy simplesmente travava nesse momento, sendo necessário desligá-lo. Ao ligar novamente, o jogo salvo simplesmente sumiria, para sempre. E, como cereja nesse bolo macabro, a qualquer momento a partir daí o jogo poderia simplesmente matar o jogador, travando com as palavras “Ghost curses you” (“Ghost amaldiçoa você”) sobre um preto absoluto e a imagem do lúgubre ajudante. Veja o vídeo abaixo para os detalhes sórdidos.
Pokémon Lost Silver Edition e a condenação ao esquecimento
Lost Silver é uma alteração de Pokémon Silver Edition primeiramente documentada por um estudante americano em 2010, ano que parece ter sido o ápice nesse setor. Esta outra versão de Pokémon, porém, tem uma história ainda mais retorcida que as anteriores pelo grau de corrupção do jogo beirar a destruição completa e ela foi encontrada em uma grande loja de jogos, a GameStop, longe de mãos suspeitas de pequenos varejistas (embora na seção de usados).
O jogo já mostra sua garras diabólicas na logo inicial da GameFreak, que precisa de vários boots para poder funcionar. A partir daí, uma tela preta de muitos segundos leva ao menu pré-jogo, sempre com um invariável jogo salvo em nome de “…”. Este arquivo tem todos os sinais de mal-caratismo: além de começar em uma área modificada perto de Bellsprout Tower, o jogador já chega com 999999 pokédolars, pokedéx completíssima, 999:59 horas de jogo e todas as 16 insígnias; no contravento, todos os seus pokémons estão no nível 5, cinco deles são Unowns (que juntos escrevem “Leave” – “saia daqui”) e um deles é um Cyndaquil nomeado “Hurry” (“corra”) com apenas 1 de vida e habilidades de suporte. Interessante combinação: “saia daqui, corra”. Também não há música nem efeitos sonoros além dos passos.
A partir daí, o jogador deve seguir por um corredor escuro em direção a um baú, que o avisa: “Vá embora Aagora” e o joga para outra sala. Seu Cyndaquil morre, seu time muda para seis Unowns que juntos escrevem “He Died” (“ele morreu”).
Outros boatos, mitos e fabricações
Esses casos criaram juntos o culto dos cartuchos amaldiçoados. Eles trouxeram uma legião de fãs que passaram a incluir na cultura Creepypasta uma série de relatos de jogos amaldiçoados, com comportamentos dos mais escabrosos, nefastos e fatais para seus usuários. Depois do trabalho de Jadusable, centenas de hackers e milhares de escritores tentaram recriar a tortura do espírito Ben em outros jogos, até mesmo em Super Mario 64. E Pokémon, de tantas modificações assustadoras que recebeu, foi até proibido da wiki Creepypasta em qualquer nova versão.
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