Ao embarcar em uma pequena doca ao lado do Parque dos Patins, na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio de Janeiro, percebemos que todos os presentes gostariam de fazer o passeio, e conhecer a árvore mais de perto. O trajeto é curto e em poucos minutos nos aproximamos da árvore, que vista de perto, impressiona.
Além da altura, claro, o que chama a atenção é a quantidade de pedalinhos espalhados ao redor da árvore, que parecem atraídos pelas luzes coloridas. São muitos, e todos muito mais próximos do que o limite mínimo de 200 metros, anunciado em várias placas, dando trabalho ao responsável pela segurança da embarcação.
O piloto do barco que faz a viagem de ligação entre a árvore e a doca na Lagoa há seis anos é Manuel Rebouças: “São as mesmas luzes que usamos na nossa árvore de casa: mangueiras com lâmpadas que formam todos os desenhos”. É ele que transporta as pessoas que ficam a bordo da árvore flutuante: um brigadista, um geradorista, um operador de iluminação e dois eletricistas, que ficam na árvore em todos os momentos em que ela está acesa, desde a inauguração até o dia de Reis - 6 de janeiro -, quando ela será desmontada. O único que pode ir para casa mais cedo é o operador de som, pois o áudio da árvore é interrompido às 10 da noite para não atrapalhar o sono dos vizinhos da árvore.
Uma das missões do brigadista da equipe é manter os barcos e pedalinhos a mais de 200 metros da base da árvore, para a segurança dos próprios visitantes. Luis Henrique Souza conta que, enquanto está pedindo para as pessoas se afastarem de um lado da árvore, outros pedalinhos tentam se aproximar do outro lado, e que nos dias de festas, os pedalinhos continuam chegando até as duas horas da manhã. E eles dão trabalho? Luis Henrique diz que sim: “Muito. Eles querem chegar perto toda hora, e se possível até mesmo subir na árvore”.
Antonio Bezerra é o responsável por ligar a árvore e fazer a alegria dos turistas e cariocas que estão esperando nas margens da Lagoa. Ele nos mostra o interior do que chama de “o coração da árvore”: a sala de controle. À primeira vista, impressiona a complexidade dos fios. Cada cabo controla uma fileira de luz ou um elemento do cenário, todos ligados em dimmers que se conectam com conversores para o computador que controla tudo. “A programação de todas as mais de 3 milhões de microlâmpadas é acionada por um botão no computador. Quando dá 19:45, a eu simplesmente aperto o botão e o espetáculo começa”.
A montagem da estrutura e do software é feita depois que a árvore está totalmente montada, com todas as luzes instaladas. O processo leva uma semana, em uma sala refrigerada por dois ar condicionados poderosos para preservar os equipamentos. “Tudo é automatizado, mas fico atento para ver se está tudo funcionando, e caso aconteça algum problema, temos um computador de backup e vários módulos para substituir em caso de defeito. Tudo aqui tem pelo menos uma reserva. A gente não está livre de qualquer problema, mas o que vier a acontecer a gente está preparado”, garante Antonio.
Para dar conta de todas as luzes e sons da árvore, são necessários 4 geradores de 500 KVA ligados o tempo todo, sendo três trabalhando na árvore e um funcionando em paralelo para entrar em ação imediatamente, caso seja necessário. A árvore funciona perfeitamente com até 2 geradores, e ainda existe um outro gerador de reserva e o gerador usado para o serviço dos equipamentos, com um total de 6 geradores a bordo.
O operador monitora o desempenho dos geradores em tempo real na tela do computador, e caso um deles tenha problema, ele pode acionar o gerador de backup em instantes. O programa também coloca um histórico de todas as condições a cada segundo, para consultas no futuro. É possível consultar a operação do ano passado, para analisar como foram as estatísticas e comparar com a atual.
O eletricista de plantão é Felipe Pinheiro, responsável por toda parte elétrica da árvore de Natal, desde todas as luzes até as tomadas usadas pela tripulação. Ele também cuida dos quatro motores que movem a árvore em seus três lugares pré-determinados. “Todo dia estamos aqui, mas minha família nem sente a minha falta, pois a minha sogra sempre nos visita nesta época do ano, e quando eu saio daqui também vou para a festa.”
Perguntado se ele se lembra de algum problema ou pane, ele diz que a maior parte dos sobressaltos acontece na fase de testes, mas qualquer eventualidade pode ser corrigida pela equipe na hora. “Alguns anos atrás um dos alternadores teve que ser trocado, mas não prejudicou o funcionamento da árvore. Tivemos que trocar um gerador de 1,7 tonelada em uma árvore flutuante em menos de 3 dias, o que deu bastante trabalho.”
Carlos Marques, o engenheiro elétrico da árvore é o responsável por realizar o sonho dos cenógrafos. “É um desafio, pois precisamos distribuir a carga no quantidade de canais limitado, que não tem como crescer, pois estamos em uma embarcação. Para colocar mais canais de dimmer, a gente ia precisar de uma estrutura maior”. Apesar de não fazer parte da tripulação, o engenheiro faz visitas periódicas, especialmente na véspera da inauguração, além da véspera do Natal e do Ano Novo, quando tudo tem que funcionar perfeitamente.
“Em uma noite as vésperas da inauguração, a lâmpada de neon to topo da árvore queimou. Não dá para chegar até lá diretamente, você tem que subir até um determinado andar e depois sair por uma janela para alcançar o topo. Ventava muito, uma tempestade acontecendo, e lá em cima a gente não conseguia ouvir nada do que o técnico estava dizendo, mas pelo menos ele conseguia escutar o que a gente falava. Mandamos as instruções e deu certo, o eletricista conseguiu trocar a lâmpada e a árvore foi acesa com a estrela do topo no dia seguinte”, conta Carlos.
O brigadista Luis Henrique conta que, apesar de nunca passar o Natal e o Ano Novo em casa, a equipe da árvore da Lagoa já se tornou quase uma família. “Assistir à queima de fogos da Lagoa de dentro da árvore é lindo, uma experiência inesquecível.”
Todos os funcionários envolvidos na árvore trabalham de excelente humor, no verdadeiro espírito da estação, sem se incomodar em ficar de prontidão para garantir a beleza da árvore flutuante, há 17 anos parte da paisagem do Rio de Janeiro. Afinal, são eles que trabalham para que as luzes do nosso sonho natalino virem realidade e continuem se refletindo nos milhares de olhos encantados ao redor da Lagoa, ano após ano.
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